Meu velho pai
Meu pai querido, hoje eu me atrevo a publicar
a dor que escreveu estes versos por ocasião da sua agonia mortal..
Meu velho pai
Nos teus olhos cansados
O doído ai
Dos bichos acuados...
Meu velho boiadeiro
Outrora tão livre
Vejo-te agora sorrateiro
sondando a morte
Com este medo primitivo
Que te faz tão forte
Tão forte
Que por mais que a morte
De dores te crive
Resistes ....
Teus olhos.. Ah teus olhos
Teimam em não agonizar
Assim como os touros feridos...
Pai eu te amo
Neste momento
Sentimento não partilhado
Momento só teu
Que a morte concebeu...
Assim eu te vejo
E sem nenhum pejo
Assim te amo
Amor pungente
Com sabor de adeus
a jorrar dos olhos teus...
Te amo velho pantaneiro
Das noites nas estradas
Dos curixos
Tão irmão
da natureza, dos bichos..
Da liberdade selvagem
Das verdes pastagens
Ramagens
Cenários da vida
Que amas como ningúem
E por isto da minha alma este grito vai
Pai, não temas
Ouve ao longe os berrantes
dos antigos boiadeiros
Errantes...
E vai ... Sem medo
vai